A creatina é um dos suplementos mais estudados e utilizados por atletas e praticantes de musculação. Existem diferentes formas disponíveis no mercado, e entender suas características pode ajudar na escolha mais adequada para seus objetivos.
Ela é um composto orgânico nitrogenado, tornou-se um dos suplementos nutricionais mais pesquisados e utilizados no mundo, especialmente por atletas e praticantes de atividades físicas que buscam otimizar seu desempenho e composição corporal. Sua história remonta ao século XIX, e desde então, inúmeros estudos científicos têm elucidado seus mecanismos de ação e comprovado seus benefícios para o organismo humano.
A Descoberta da Creatina
A jornada da creatina começou em 1832, quando o químico francês Michel Eugène Chevreul (1786-1889) conseguiu isolar uma nova substância a partir do extrato aquoso de músculos esqueléticos. Chevreul, conhecido por seus extensos trabalhos sobre gorduras animais que revolucionaram a fabricação de sabões e velas, nomeou este novo composto de "creatina", derivado da palavra grega "kreas", que significa carne.
Esta descoberta inicial foi um marco, abrindo caminho para futuras investigações sobre a natureza e a função desta molécula no corpo. Posteriormente, por volta de 1847, o renomado químico alemão Justus von Liebig confirmou a presença da creatina na carne de diversos animais e observou que animais selvagens possuíam concentrações mais elevadas de creatina em seus músculos em comparação com animais domesticados, sugerindo uma possível relação entre a atividade física e os níveis de creatina muscular. Liebig também foi pioneiro na comercialização de extratos de carne, que continham creatina, como um tônico para melhorar a saúde e o vigor.
Primeiros Estudos e o Reconhecimento dos Efeitos
No início do século XX, pesquisadores como Otto Folin e Willey Glover Denis, da Universidade de Harvard, realizaram estudos mais aprofundados sobre o metabolismo da creatina. Em 1912, eles demonstraram que a ingestão de creatina exógena poderia aumentar significativamente os estoques de creatina no músculo. Seus trabalhos também estabeleceram a relação entre a creatina e a creatinina, seu produto de degradação metabólica excretado pela urina, fornecendo uma base para entender a dinâmica da creatina no organismo.
No entanto, foi somente nas décadas seguintes, especialmente a partir dos anos 1990, que a suplementação de creatina ganhou popularidade massiva, impulsionada por estudos que começaram a demonstrar consistentemente seus efeitos ergogênicos, ou seja, sua capacidade de melhorar o desempenho físico. Relatos sobre o uso de creatina por atletas de elite nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 contribuíram para disseminar seu uso no meio esportivo.
Efeitos Benéficos com Maior Comprovação Científica
A pesquisa científica sobre a creatina é vasta, e diversos de seus efeitos positivos no organismo humano são amplamente corroborados por estudos robustos, incluindo revisões sistemáticas e meta-análises. O foco principal da investigação tem sido seus impactos no desempenho físico e na massa muscular, mas evidências emergentes também apontam para outros benefícios.
Aumento da Força e Hipertrofia Muscular
O efeito mais consistentemente documentado da suplementação de creatina é o aumento da força muscular e da hipertrofia (ganho de massa muscular) quando combinada com o treinamento de resistência (musculação). A creatina atua primariamente aumentando os estoques intramusculares de fosfocreatina. A fosfocreatina é uma molécula crucial para a rápida regeneração de adenosina trifosfato (ATP), a principal fonte de energia para contrações musculares de alta intensidade e curta duração. C
om maiores reservas de fosfocreatina, os músculos conseguem manter um desempenho ótimo por mais tempo durante séries de exercícios intensos, permitindo que o indivíduo treine com maior volume e intensidade, o que, por sua vez, estimula adaptações como o aumento da força e da massa muscular.
Uma revisão abrangente publicada na Revista Brasileira de Medicina do Esporte por Gualano et al. (2010) discute os mecanismos pelos quais a creatina promove essas adaptações. Além da maior disponibilidade de ATP, a suplementação de creatina pode influenciar positivamente o balanço proteico muscular, modular a expressão de genes e proteínas relacionados à hipertrofia (como fatores de crescimento miogênico) e aumentar a ativação e proliferação de células satélites, que são células precursoras importantes para o reparo e crescimento das fibras musculares. Outro efeito observado é o aumento do volume celular devido à retenção hídrica intracelular, que pode atuar como um sinalizador anabólico, contribuindo para a síntese proteica.
Melhora do Desempenho em Exercícios de Alta Intensidade
Consequência direta do aumento da disponibilidade de ATP, a creatina melhora significativamente o desempenho em atividades que envolvem explosões repetidas de esforço de alta intensidade e curta duração. Isso inclui sprints, saltos, levantamento de peso e esportes intermitentes como futebol, basquete e vôlei. Atletas que utilizam creatina frequentemente relatam a capacidade de realizar mais repetições em uma série de exercícios, manter a potência por mais tempo e recuperar-se mais rapidamente entre os estímulos intensos.
Potenciais Benefícios Cognitivos e Neuroprotetores
Embora a maior parte das pesquisas tenha se concentrado nos músculos, o cérebro é um órgão com alta demanda energética e também utiliza o sistema creatinafosfocreatina para a manutenção do ATP. Estudos mais recentes têm explorado os potenciais efeitos da suplementação de creatina na função cerebral e na neuroproteção. Algumas pesquisas sugerem que a creatina pode melhorar a cognição, especialmente em situações de estresse mental, privação de sono ou em populações com níveis de creatina cerebral naturalmente mais baixos, como idosos e vegetarianos. Há também investigações sobre seu papel coadjuvante no tratamento de certas condições neurológicas e neuromusculares, como distrofias musculares, doença de Parkinson e lesões cerebrais traumáticas, embora mais estudos sejam necessários para confirmar esses efeitos terapêuticos de forma conclusiva.
Considerações Finais
A descoberta da creatina por Michel Eugène Chevreul foi o ponto de partida para uma longa trajetória de investigações científicas que culminaram no reconhecimento de seus múltiplos benefícios para o organismo humano. Os efeitos mais robustamente comprovados, como o aumento da força, da massa muscular e a melhora do desempenho em exercícios de alta intensidade, consolidaram a creatina como um dos suplementos mais eficazes e seguros disponíveis. À medida que a pesquisa avança, novos horizontes se abrem para o entendimento completo de seu potencial terapêutico, inclusive em contextos não esportivos, como a saúde cerebral e o envelhecimento.